Governo anunciou a suspensão da implantação do Novo Ensino Médio, porém a suspensão não basta: é preciso revogar o NEM.
por Filipe Barba
O novo ensino médio (NEM), que teve sua implementação suspensa, terá várias implicações a médio e longo prazo na vida do estudante. Uma das principais mudanças no NEM é a flexibilização curricular, que permite aos estudantes escolherem entre diferentes áreas de conhecimento para se aprofundar. Essa flexibilização pode se tornar, porém, apenas uma ilusão de escolha, sem implicar uma verdadeira liberdade.
Dado o nível de precarização das escolas públicas, a capacidade de oferecer todos os itinerários formativos será muito discrepante entre as escolas. Enquanto alguns terão a possibilidade de escolher, outros deverão ficar com “o que tem”, visto que as escolas não são obrigadas a disponibilizar todos os itinerários.
Ao reduzir a oferta de disciplinas como História, Geografia, Filosofia e Sociologia, adota-se uma concepção de educação simplista, que visa a formar apenas mão-de-obra para o mercado de trabalho, sem considerar a formação integral dos indivíduos e o desenvolvimento crítico e reflexivo dos alunos.
A proposta de entrelaçamento das disciplinas de Biologia, Química e Física pode ser vista como uma forma de homogeneização do conhecimento, que não considera as particularidades de cada área. Isso pode comprometer a qualidade do ensino, privando os alunos de entrar em contato com o legado cultural e científico do desenvolvimento humano.
NEM é contrário ao ensino crítico
Nesse novo modelo, escola deixa de ser vista como um espaço de transmissão de conhecimento para formar cidadãos críticos e conscientes para se tornar um espaço de formação de “empreendedores”, visando preparar os alunos para o mercado de trabalho precarizado, sem direitos trabalhistas e baixos salários.
A escola passa a atender unicamente os interesses do empresariado, de formar mão de obra barata e facilmente substituível, em detrimento do interesse coletivo, reforçando a ideologia que naturaliza a exploração e a opressão no sistema capitalista. Essa visão é contrária aos valores da solidariedade e da cooperação, essenciais para a construção de uma sociedade justa e igualitária.
Além disso, o novo modelo de ensino médio irá agravar as desigualdades sociais no país, uma vez que a maioria dos estudantes brasileiros são atendidos por escolas públicas, que possuem menos recursos e oferecem um ensino de qualidade inferior, devido aos baixos investimentos públicos dedicados à educação. Isso pode resultar em maior exclusão e marginalização social, aprofundando ainda mais as desigualdades no país.
A suspensão da implementação é uma boa notícia, mas não devemos perder de vista que o NEM não é mal formulado: na verdade, ele foi muito bem formulado, mas para atender os interesses de grandes empresários, que apoiam movimentos em favor do NEM, como o Todos Pela Educação. O desenvolvimento da educação no sentido da privatização e terceirização dos serviços educacionais é, por óbvio, de grande interesse de empresários do setor.
Por isso, defender sua revogação é essencial: sem prejuízo de eventuais modulações para não afetar negativamente alunos de escolas que já adotaram o NEM, é evidente que não pode existir reforma possível para algo pensado contra os interesses da coletividade e em favor, principalmente, de conglomerados da educação.