por Mateus Cavalcante

O nível de endividamento da população do Distrito Federal é assustador. Segundo relatório, publicado pelo Serasa, a capital está em quarto lugar no Brasil em percentagem da população endividada.

É comum vermos “especialistas” atribuírem o problema à falta de organização financeira das pessoas. É evidente que a falta de organização das finanças facilita o descontrole. Mas descontrole presume excesso, gastança além do necessário. Será esse o caso?

Em reportagem do fim do ano de 2022, no site Rede Brasil Atual, somos informados de alguns dados que podem ajudar a refletir quais as verdadeiras causas da dificuldade financeira que enfrenta o povo brasileiro, e particularmente a população do Distrito Federal.

Se contabilizássemos a jornada média de trabalho necessária para adquirir uma cesta básica, em janeiro de 2019, chegaríamos a cerca de 88 horas de trabalho. Em novembro de 2022, esse valor já chegava a 121 horas: uma clara queda do poder de compra dos trabalhadores brasileiros. Se olhamos a percentagem que a cesta básica “morde” do salário-mínimo, veremos que, em 2018, uma cesta básica correspondia a 43,52% da renda recebida, enquanto, em 2022, esse valor já batia 59%.

Diante dessa realidade, diante do absoluto empobrecimento das brasileiras e dos brasileiros, atribuir o problema de endividamento ao descontrole financeiro revela um completo desconhecimento da realidade do país – para não dizer que beira o sadismo. Na verdade, o endividamento é consequência direta e evidente da alta inflação de produtos básicos, da perda salarial, e do alto nível de desemprego, que marcou a economia brasileira nos últimos anos.

A cobertura irresponsável que culpa a população por problemas estruturais da economia é uma vergonha, um acinte, uma hipocrisia indesculpável. Se as pessoas estão parcelando compras no supermercado, não é por capricho ou desleixo, nem por quererem ter além do necessário: é justamente por precisarem fazer isso para não passarem fome.

O endividamento da população do Distrito Federal é o quarto maior do Brasil. Embora a falta de organização financeira possa contribuir, o problema é principalmente causado pela alta inflação de produtos básicos, perda salarial e alto nível de desemprego. A cobertura midiática que culpa a população é uma hipocrisia, já que muitas pessoas precisam parcelar compras no supermercado para evitar a fome.