Demissões em massa desmontam ilusão meritocrática na área da TI

Para as/os trabalhadores do TI, serviço completamente precário e explorador, aos coachings de empresa, oportunidade de fazer a mente do povo!

por Jornal O Futuro de São Paulo | original

Em um ano em que trabalhadores do setor de Tecnologia da Informação foram objeto de intenso debate devido às demissões em massa (de gigantes como Google, Microsoft, Amazon entre outras) e ao fim de uma era de crescimento exponencial para empresas de tecnologia, é importante lembrar que esse campo nunca correspondeu ao sonho que muitas vezes é promovido.

Em nome de uma suposta “eficiência”, empresas de diversos setores têm adotado práticas contrárias aos seus direitos trabalhistas. O discurso liberal é utilizado usado como justificativa para impor jornadas de trabalho exaustivas e defender um estilo de vida “workaholic” (“viciado em trabalho”) em nome de uma meritocracia que nunca é realizada de fato.

Funcionários são frequentemente pressionados a trabalhar em regime de informalidade, sem horários definidos e sem direito a pagamento de hora extra, adicional noturno ou auxílio home office. Isso é especialmente preocupante em um contexto em que a pandemia da COVID-19 fez com que muitas pessoas passassem a trabalhar de casa, sem as garantias trabalhistas previstas pela legislação.

Além disso, a rápida evolução tecnológica e a necessidade constante de requalificação profissional colocam uma pressão ainda maior sobre os trabalhadores. É comum que as empresas cobrem dos funcionários conhecimentos específicos, sem oferecer cursos de qualificação ou tempo livre para estudar. Por meio de cursos de “coaching” tais empresas buscam persuadir seus funcionários a “vestirem a camisa” em troca de nada, dizendo que os funcionários devem ter mente de dono da empresa, o tal “mindset”,  enquanto os lucros não são justamente distribuídos.

As desigualdades no ambiente de trabalho da área de tecnologia são gigantescas e afetam principalmente mulheres e pessoas negras, que historicamente têm pouco acesso e menos possibilidades de ascensão profissional em um ambiente dominado por homens brancos. Além do que, esses grupos recebem salários menores, contribuindo para a perpetuação da desigualdade salarial de gênero e racial. O ambiente altamente competitivo também afeta a saúde física e mental desses trabalhadores.

Farsa da meritocracia

Essas desigualdades são encobertas por discursos que promovem a ideia de que é possível alcançar altos níveis hierárquicos com esforço pessoal e que a meritocracia é a chave para o sucesso profissional. Enquanto isso, sindicatos e organizações de trabalhadores são desencorajados e estruturalmente desmontados com ameaças veladas de demissões, levando a um ambiente de trabalho altamente desmobilizado e pouco propenso a discussões sobre a luta por direitos trabalhistas. Vincula-se a ideia de que a empresa é como uma família e que é possível a “negociação direta com o patrão”.

É preciso uma disputa ideológica no setor de tecnologia para promover a conscientização coletiva dos trabalhadores e fortalecer a organização da classe. Somente com essa mobilização, será possível resistir aos avanços do neoliberalismo que vêm ameaçando os direitos dos trabalhadores de TI.

A tecnologia não é propriedade de grandes empresas, muito menos de patrões, não está acorrentada aos discursos de “coachings”. A tecnologia da informação sempre foi baseada na construção coletiva de resoluções de problemas e é nesse caminho que devemos seguir, pela construção de alternativas populares e verdadeiramente livres. Devemos construir também na tecnologia, a capacidade de organização de nossa classe em seus instrumentos de luta! É esse o caminho que está garantindo uma nova perspectiva para a Ciência e Tecnologia.

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