Antigo albergue da juventude é demolido noite adentro em Brasília

Edifício propiciou hospedagem de baixo custo durante décadas na Capital Federal e estava no centro de conflitos fundiários. GDF ainda não divulgou as razões da demolição

por Danilo Matoso

Na manhã dessa quarta (13) escavadeiras e tratores iniciaram a demolição do edifício que abrigava o antigo Albergue da Juventude de Brasília. Com dois pavimentos, ele está implantado num lote de 4 mil m2 no Setor de Recreação Pública Norte e já sediou o camping da cidade e mesmo um local de eventos chamado Camping Show.

Em 2013, em meio a um conflito sobre a posse do lote, a Terracap pretendia demolir o conjunto para que o terreno fosse absorvido pelo Parque Ecológico Burle Marx – complementar ao Setor Noroeste.

Em maio de 2020, o Governo do Distrito Federal (GDF) chegou a anunciar que o Albergue da Juventude seria reformado e reativado. Na época, a Secretaria da Juventude do GDF revelou a intenção de “implantar o ‘Big Innovation Center’ – espaço para troca de experiências entre empresários brasilienses e jovens empreendedores –, e a Agência Hostel, onde poderão ser realizadas ações sociais em parceria com grandes marcas para inclusão socioprodutiva de jovens e adultos em situação de risco, capacitação profissional e inclusão no mercado de trabalho”. Entretanto, as obras então se limitaram à retirada dos muros.

Com 20 quartos e capacidade para receber quase uma centena de hóspedes, além de salas e espaços de eventos, o edifício era uma opção de estadia e realização de eventos a baixo custo sobretudo para ativistas que vinham à cidade para atos de protesto contra o governo Bolsonaro.

Sem aviso

A advogada Carine Pinheiro, parceira do Albergue da Juventude, denuncia que “a derrubada foi irregular, ali é terra pública, mas deveriam ter notificado oficialmente! É isso não foi feito!”. Carine relata que a desocupação começou sem qualquer aviso prévio por volta das 9h da manhã da quarta, num dia em que o local contava com cerca de 40 hóspedes e quatro mensalistas, cujos pertences foram retirados em caixas por agentes da DF Legal e levados de modo precário em caminhões. Os trabalhos de demolição começariam no início da noite.

Um dos mensalistas, um arquiteto que preferiu não se identificar, estava no interior de São Paulo no momento da desocupação e está muito apreensivo com o destino de seu acervo de projetos e livros. Ao ver uma das fotos, comenta: “aí era tudo meu inclusive originais de meus projetos do começo de carreira”. Ele se diz ainda assustado com a possibilidade de ter perdido livros de arquitetura, arte, engenharia e design que o acompanham há décadas – muitos dos quais herdados de seu pai.

Restos de pertences de um dos mensalistas após a remoção às pressas. Foto: Carolina Pinheiro

Em matéria veiculada pela TV Globo agora à noite, o DF Legal afirma que a notificação foi feita. À reportagem da emissora, a Secretaria da Juventude limitou-se a afirmar que “o termo de concessão de uso foi revogado pela Terracap”, que ordenou a desocupação e demolição do local na área pública por ter expirado a concessão de seu uso como albergue.

A Revista O Ipê ainda busca apurar mais informações sobre a demolição.


Matéria atualizada pela última vez às 10h03min de 14 de abril de 2022.

Um comentário

  1. Sugiro que os responsáveis pelo Albergue da Juventude denunciem a ilegal ação de Ibaneis no Ministério Público e na Promotoria Pública do DF.

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