A Rússia fora do Swift

Swift oficializa a decisão sobre a remoção de 10 instituições financeiras com ligações russas após decisões diplomáticas: como o embargo econômico pode afetar a classe trabalhadora?

por Artur Leon

No dia 12/03 a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais – Swift (em inglês Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) declarou em seu site oficial a remoção de 7 instituições russas e 3 bielorrussas. A justificativa da ação está na decisão da União Europeia (com apoio dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido) em responder, pela via econômica, aos ataques russos contra a Ucrânia. Isso pode acarretar grave crise econômica, já que a função do sistema é facilitar a comunicação entre bancos intercontinentais, podendo comprometer o recebimento e envio de moedas estrangeiras, causando impacto nas exportações e importações do país. Pode-se dizer que essa remoção faz parte das sanções econômicas que protegem os interesses burgueses da aliança euroatlântica, cujo objetivo principal é causar uma desestabilidade econômica, podendo aumentar o empobrecimento da população e reduzir recursos militares russos, além, claro, de assenhorar-se de parcelas cada vez maiores de mercados consumidores. Para a classe trabalhadora, isso pode significar aumento de custo de vida, desemprego, migrações, morte e outros problemas, não apenas na Rússia, mas também no Brasil.

O que é o Swift?

Criada em 1973 para buscar soluções para pagamentos intercontinentais entre bancos e garantir informações, atualmente a SWIFT define-se como uma cooperativa global de membros-propietários e líder mundial no fornecimento de serviços de mensagens financeiras seguras”. Em outras palavras, seu trabalho consiste em fornecer canais de comunicação entre bancos de forma globalizada, bem como coletar informações de mercados e instituições financeiras, orientar Bancos Centrais, classificar riscos de investimentos e reduzir tempo de transações. Seus serviços estão presentes em quase todos os países e territórios em ao menos 11 mil instituições pelo mundo.

Apesar da sua descrição como “cooperativa internacional neutra” e ser gerenciado por diversos burgueses de vários países, sua sede encontra-se na Bélgica sob jurisdição da União Europeia. Em um estudo publicado pelo Departamento de Política para Relações Externas da UE em novembro de 2020, avaliou-se sanções extraterritoriais sobre o comércio e investimentos diretamente contra o Irã, Cuba e Rússia como “resposta europeia”, concluindo que tais sanções possuem “implicações econômicas importantes, especialmente para a UE e suas vulnerabilidades”. Das diversas ações de embargo analisadas, o estudo considerou o uso da sanção SWIFT como adequada “apenas em caso grave de violação de lei internacional com grande repercussão na UE […] se a aplicação de todas as outras falharem”. O sistema, portanto, tem capacidade de produzir uma pressão geoeconômica, bem como constitui uma grande ferramenta para defender os interesses políticos e econômicos da UE e de seus membros.

Quais os objetivos da sanção?

A remoção da Rússia na SWIFT tem por objetivo enfraquecer o país e reduzir a capacidade de geração de produção, recursos financeiros e força de trabalho para retardar e desincentivar as ações militares. Essa manobra não é novidade no cenário internacional e faz parte do conjunto de sanções econômicas, que são utilizadas pelos países capitalistas-imperialistas como ferramenta de dominação política e econômica. Nas palavras do estudo e em tradução livre, “sanções econômicas, como embargos comerciais abrangentes, muitas vezes produzem efeitos indiscriminados e perversos nos países-alvo. A catástrofe humanitária causada pelo abrangente embargo da ONU ao Iraque no início da década de 1990 é um exemplo disso”. O embargo ao Iraque foi imposto pelos EUA com objetivo de controle do petróleo, impedir o país de desenvolver força bélica nuclear e forçar o governo iraquiano em se alinhar com os interesses imperialistas. O resultado do embargo foi um país inteiro com as condições de vida precarizadas e mortes ocasionadas por isso como fome e doenças.

Como isso afeta a economia da Rússia?

As sanções contra a Rússia podem impactar de formas diferentes suas instituições financeiras devido à potência militar e econômica do país. A exclusão dos bancos russos do SWIFT não significa uma total exclusão de transações extraterritoriais, mas sim, dificulta o processo de importações e exportações, sendo necessário viabilizar uma nova maneira de trocar informações de pagamento com seus bancos correspondentes. A China possui um sistema semelhante chamado CIPS (Sistema de Pagamentos Internacionais Transfronteiriços da China), sendo uma alternativa para a Rússia substituir a principal moeda estrangeira de dólares em yuan, podendo ocasionar uma coesão maior entre os dois grandes países do oriente. Outro fator que afetaria o mercado internacional é o gás natural russo, cujo abastecimento na Europa chega a ser 40% do consumo, o que pode ocasionar escassez do recurso e gerar inflação. No outro lado, os EUA possuem 8% das importações de petróleo russo, o que pode impactar no preço do barril no mercado.

Como isso pode afetar a classe trabalhadora?

As relações econômicas estão intrinsecamente ligadas com as relações de trabalho e condições de vida e, portanto, todas suas crises afetam diretamente a classe trabalhadora também de uma forma generalizada. Trabalhadores e trabalhadoras — não apenas russos e ucranianos, mas de todo o mundo — serão os mais afetados pelos embargos e conflitos, pois dificulta a classe em acessar as necessidades básicas como alimentação, moradia, transporte, enfim, qualidade de vida. Algo que nenhum burguês de nenhum lugar do mundo precisa se preocupar, contudo, possuem seus interesses defendidos e atendidos pelo Estado e decidem os rumos da economia e política no crescimento e privatização de suas riquezas através da exploração da classe trabalhadora.

No Brasil, atualmente o País já vive uma política econômica orientada sob os interesses dos mercados financeiros imperialistas, estrangulando a força de trabalho e dolarizando a economia, aumentando a exploração do trabalho e o custo das condições de vida. Os efeitos dos embargos podem aprofundar ainda mais os problemas já ocasionados pela política neoliberal bolsonarista.

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